segunda-feira, 30 de junho de 2008

O velho e a laranja

As rugas que tem por toda a cara, a pele queimada e o ar rude mas ao mesmo tempo cheio de afecto, as mãos já secas, de dedos grossos, testemunhas de uma vida de histórias que sempre conta quando conhece alguém, fazem ficar ali, imóvel a olhar para ele, a ouvi-lo. Faz acreditar no que diz porque o diz com convicção, porque conta histórias onde apetece entrar. Fala sobre coisas simples, tão simples que esquecemos que a vida antes era assim e que, agora, não o é porque perdemos mais tempo à procura do que nunca vem, do que a viver o que já cá está.
No meio de uma qualquer história, de repente, diz:
- Imagina uma laranja.
- Uma laranja? - responde, algo perplexo, sem perceber que raio tem uma laranja a ver com o que ele conta? - Está bem. Uma laranja... já está.
- O aspecto não é o melhor, não tem aquela cor brilhante das laranjas dos supermercados, mas sabes, é daquelas doces que encontras nos pomares das aldeias. Olha para ela, é uma laranja comum, como tantas outras, com uma cor baça, mas muito redondinha e mais pequena que as que habitualmente compras. Corta a laranja. É das de casca fina, como as mais saborosas sempre são.
- Sim, dizem que sim.
- Espreme-la directamente para a boca. Sabe bem, é doce, muito doce. Já não te recordavas de um sabor assim. As do supermercado não sabem assim. Vais espremendo lentamente. Tens que sentir cada gota que te cai na boca, saboreando cada momento. Sabes que tens que ser paciente, que ser delicado, para que não percas nenhuma gota.
- Nunca espremi nenhuma laranja directamente para a boca. Parece estranho.
- Pois, mas não é. Além disso, é um momento só teu. Em que longe de tudo, longe de todos, aproveitas todo o tempo que tens para saboreá-la. Há, no entanto, uma coisa que deves saber fazer.
- O que é?
- Deves saber quando parar.
- Quando parar? Paro quando não cairem mais gotas de sumo!
- Errado. Uma laranja vai sempre ter mais uma gota. É essa que tens que evitar. A partir de certo momento, a laranja vai largar o sumo da casca. De tanto a apertares ela vai ceder, como cedeu no início, quando te deu o seu sumo doce. Nessa altura ela vai-te dar um sumo amargo, o da casca. E aí, quando parares o sabor que te vai ficar na boca é o amargo da casca. O pior é que é também esse o sabor que irás recordar mais tarde. Por muito doce que tenha sido o sumo da laranja, só ficarás na boca com o amargo. Se não parares a tempo, terás que saber apreciar o sabor amargo.
- Refere-se à vida?
- Não. Ainda não comecei a viver o sabor amargo da casca, para mim ainda só existe o sabor doce. Mas poderia ser sobre a vida.
- Pode também ser sobre um relacionamento.
- Sim. mas também não é sobre isso. É sobre uma laranja.
- Oh! Não me contou esta história só por causa de uma laranja.
- E porque não? As coisas simples também fazem parte. Mas tens razão. Chamemos-lhe momento. Na nossa vida devemos saber aproveitar o momento como aproveitamos o sabor da laranja. Podemos mesmo arriscar. Podemos conseguir viver com o sabor amargo e, até, aprender a gostar do amargo, só que nós fomos feitos para apreciar melhor o doce do que o amargo. Por isso, na maioria das vezes, procuramos o que é doce e evitamos o que é amargo.
- E se, sem depender de nós, acabarmos por provar o sabor amargo?
- Depende sempre de nós. Ou porque escolhemos mal a laranja, ou porque a esprememos mal.
- Não concordo. E, pensando bem, não sei se esta história pode ser comparável a um momento. Não podemos beber duas vezes o sumo da mesma laranja...
- Nenhum momento se repete. Não te convenças do contrário. Só saboreias uma vez o sumo de uma laranja, mas podes várias vezes tirar a laranja da mesma árvore, do mesmo ramo, do mesmo galho. Tantas vezes quantas a laranjeira der laranjas, que é basicamente enquanto vive.
- Então o melhor é tentar acertar sempre na melhor laranja e usar da experiência para saber quando parar.
- Hum... nunca te esqueças de escolher a melhor laranjeira. Mesmo nos piores anos, vai-te dar sempre melhores laranjas...

domingo, 29 de junho de 2008

A lógica da frustração

Tenho o hábito - talvez defeito - de observar tudo o que se passa à minha volta. Seja no trabalho, seja num bar, ou, até, numa estação de serviço, tento observar tudo. Observo a disposição física do espaço, observo o comportamento individual e inter-relacional das pessoas, tentando criar uma lógica. Para mim, quase tudo tem uma lógica e, além disso, tenho uma boa memória fotográfica. É, aparentemente, uma inutilidade, isto que faço, mas muitas vezes ajuda-me a perceber o que vai à minha volta. Gosto de pensar que será, pelo menos, uma boa forma de exercitar na mente.
Quando, por exemplo, estou com alguém - vou usar como exemplo uma mulher - reparo no que veste, na postura, na fisionomia, ao ponto de reparar no sinal que tem num determinado local - por exemplo, no pescoço - ou no brilhante colado na unha do pé. Reparo em tudo.
Serve esta introdução para dizer que, às vezes, me sinto frustrado com o que vejo. Ainda ontem, num evento social, um amigo-conhecido meu levou uma amiga, supostamente namorada, que eu não conhecia. Conhecendo-o bem, nunca poderia acreditar que ele e ela poderiam formar um casal, nunca. Em que é que me baseio para tal afirmação? Porque o conheço. Se para mim, isso já seria suficiente, a partir do momento em que troquei algumas palavras, deixei de ter dúvidas, mesmo não tendo criado grande empatia com ela. Adiante.
Essa mesma lógica que procuro para tudo, é a lógica que vejo quando duas pessoas se cruzam na vida - refiro-me a relacionamentos. Não entendo as relações com base apenas na emoção. Gosto de alguém por algum (muitos) motivo(s) e esses motivos vão despertar em mim outras sensações - as emoções - que me farão estar mais sensível, mais disponível para o afecto, mais alegre, e até mais simpático. Portanto, se gosto pela razão, o que fizer, faço com emoção. Por isso, estranho quando alguém me diz que se arrependeu de estar com outrem quando teve mais que tempo de perceber se encontrava, com racionalidade, as qualidades/características que pretende ver na outra pessoa. Refiro-me a relacionamentos esporádicos, curtas-metragens!
Tenho conhecido nos últimos tempos, imensas pessoas. Poucas são as que têm relacionamentos "normais". Ainda não consegui encontrar uma lógica para isso. É suposto as pessoas serem felizes, mas para isso é preciso fazer alguns esforços e concessões. Não é isso que observo...
Talvez, por tudo isto, me sinta frustrado. Tem lógica, digam lá que não tem?

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Time is never time at all

Folheio uma revista. Quando termino percebo que não me recordo de uma única imagem ou artigo.
Durante cerca de meia-hora a revista serviu apenas de companhia enquanto pensava em diversos assuntos. O dia de trabalho de hoje, o que ficou por fazer; o dia de trabalho de amanhã, as prioridades; a noite de amanhã, se convido ou não alguém para jantar, se vou ou não ao Batô. Planeio a noite de 6ª feira. Vou ou não jantar com os meus pais e, talvez, dar uma voltinha com eles pelo centro da cidade. Aproveitar o dia de Sábado para ir com a minha mãe visitar alguns familiares. O evento na empresa, no Sábado à noite. Fecho a revista. Não me recordo do que vi, mas fiz planos, planos esses que provavelmente não irei cumprir, mas gostava. Muito mais do que uma revista ou que os planos, foram momentos meus, sem importancia, mas que se repetem diversas vezes. Não é por estar sozinho que tenho estes momentos, no entanto, por estar sozinho deixo-me ir mais vezes até à Lua. Fui e voltei, à boleia de uma revista.

...

E de repente o telefone tocou. Parei de escrever e fui atender. Era a minha mãe.
Novidades, daquelas que ninguém quer.
A minha irmã bateu com o carro. Vinha da consulta com o meu afilhado no oftalmologista. Tinha acabado de saber que apesar dos seus 4 aninhos vai ter que começar a usar óculos, o meu menino. Bateu com o carro como a notícia lhe tinha batido alguns minutos antes na alma.
Sendo assim, amanhã é dia de jantar em casa dela, levando-lhe comigo algum conforto, carinho e atenção.
Ah! Também já combinei o jantar de 6ª feira com a minha mãe. Vou jantar com eles e fico lá para o almoço de Sábado.


terça-feira, 24 de junho de 2008

S. João

Há um ano atrás passei o S. João com os meus pais, a minha irmã, o meu cunhado e o meu afilhado em casa dos meus pais.
Foi o primeiro S. João a sério do meu afilhado, com sardinhas e dois balões de S. João.
Este ano eles foram para Guimarães e eu jantei em casa, com os amigos.
Ao telefone, com a minha mãe, fiquei a saber que à tarde, ela e o meu afilhado tinham ido para a mata fazer um piquenique, com cestinho com o lanche e tudo, como um piquenique deve ser. O menino ficou radiante, e foi bom saber que um dia ele irá recordar o seu primeiro piquenique de uma forma muito especial - «foi com a minha vóvó», como ele próprio diz.
O jantar aqui por casa correu bem e durou imenso, como sempre. Fomos depois para junto da Serra do Pilar ver o fogo de artifício (ou o que restava dele, à hora a que lá chegamos).
Descemos depois até á ribeira de Gaia, parando ainda em frente à casa de uma qualquer família que lançava um balão. Com toda a lata participamos no eficaz lançamento!
Depois, atravessamos o tabuleiro inferior da Ponte. Grande susto! Nas muitas vezes em que já tinha atravessado a pé a ponte, nunca tinha sentido aquela sensação. Caminhar com a sensação de que se está com os copos - quando ainda não se está, de facto - foi assustador. Só me passava pela cabeça que a ponte fosse cair. Foi a verdadeira aventura. Nunca pensei que uma ponte pudesse criar tal sensação, tal era a vibração e oscilação da mesma.
O resto da noite, já se sabe, copos e marteladas, na mesma proporção! Quando a noite já ia longa e o grau alcoólico elevado, lá fomos para o baile do largo do bairro de Miragaia, verdadeiro ponto de encontro da euforia de muitos conhecidos que por lá encontrei. Ainda dei um saltinho á Alfandega para ver o Alvim - fraquinho, fraquinho - e terminamos a noite a tentar comer - sim foi apenas isso, tentar - aquele que acabei por eleger "O PIOR CACHORRO-QUENTE DA MINHA VIDA". Tenho para mim que o estado em que me encontro hoje foi resultado desse encontro imediato com o dito cachorro (ou então foi do que andei a beber, não sei!).
Hoje, depois de vários planos que sairam furados, acabei novamente por ir para a Ribeira, onde acabei por ficar a jantar. Com outras companhias mas com a mesma diversão e... sem copos, que isto hoje não está fácil.
Amanhã vou para as Caldas e, garanto-vos, não vou fazer um c@r@lho (digam lá que não foi um trocadilho genial?).
Agora vou dormir, embalado pela música...


domingo, 22 de junho de 2008

Factos da Semana

A selecção nacional foi eliminada pela Alemanha. Por muito que todos nós desejássemos o contrário, era expectável. Somos bons, mas não somos os melhores.
Fui multado em Lisboa pela EMEL. Tinha o carro estacionado á porta do hotel e quando saí de manhã - eram 8:40h - já tinha lá a multa. Deu para perceber que os senhores da EMEL entram ao serviço cedo! Eu não sabia.
O calor voltou. Finalmente é Verão. E sabe bem. Hoje passei a tarde na esplanada á beira-mar. Em grande.
Também hoje, mas de manhã, fui às compras. Concluí que a greve dos palhaços dos camionistas ainda afecta o mercado. Faltam produtos nos lineares. Muitos, em diferentes secções. Bando de anormalóides.
Amanhã é a noite de S. João. Os amigos vão cá estar. Jantamos cá em casa, depois seguimos para a ribeira de Gaia. Espero ainda dar um saltinho à Alfandega e, se houver muitos gunas, seguimos para o Plano B (quase certo!). Boas marteladas...

quarta-feira, 18 de junho de 2008

But if you try sometimes you might find... what you need

Os dias correm completamente preenchidos.
Muda-se com a a convicção de que tudo ficará diferente, mas na verdade tudo fica surpreendente melhor. Gosta-se mais de viver e vive-se mais, aproveita-se todo o tempo, faz-se mais, faz-se muito mais. O cansaço é, nestes caso, não uma consequência, mas uma recompensa. É um cansaço que sabe a vida.
Conhece-se novas pessoas com quem apetece estar em momentos diferentes, a fazer coisas diferentes, sendo necessário, muitas vezes fazer opções. Escolher com quem estar, quando e o que se vai fazer. Sabe bem. Pena que o tempo não chegue nem sobre. Podia-se fazer mais.
O trabalho corre bem, apesar de alguns contra-tempos. Faz parte. As pessoas percebem o que fazemos, o que queremos e como queremos. Há sempre alguém que insiste em ser parte do problema.
Apetece agarrar o mundo na mão, ora para o fazer andar mais depressa, ora para o fazer parar.
Pela inevitável insatisfação ou por pura estupidez, sabemos que, apesar de tudo, falta sempre qualquer coisa.
Só por esta vez vou dizer que não falta... por teimosia!


quarta-feira, 11 de junho de 2008

Greve dos Transpostadores

Deixo aqui bem claro: SOU CONTRA.
Se a economia do País vai mal e se as empresas estão com dificuldades, estas greves só servem para agravar o problema.
Mais ainda, não me parece que uma greve seja ou tenha que ser cumprida por todos. O direito à liberdade de escolha deve ser sempre exercido pela vontade de cada um.
Ninguém deveria ser obrigado a fazer greve, ninguém deveria ser vitima das suas opções.
Quando a liberdade é posta em causa, então "puta que pariu este bando de anormais e arruaceiros" que impoem a sua vontade, como se fossem donos da verdade absoluta. Cabrões de camionistas.
Tenho dito.
Boa semana para todos (menos para os camionistas arruaceiros".
(tenho neste momento o meu trabalho posto em causa por causa desses filhos da puta)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

9 de Junho 2004

Nessa noite nasceste tu.
A mamã desde manhã que te aguardava.
Não querias sair, a mamã cada vez mais ansiosa, e tu não querias aparecer.
As horas foram passando e, perante a tua demora, os senhores doutores optaram por te tirar de outra forma.
Quando finalmente apareceste foi uma alegria para todos nós.
Hoje fazes 4 aninhos e és um menino lindo e esperto. Eu, como teu padrinho, sinto-me orgulhoso. Pelo que és, pelo que te vais tornando e, acima de tudo, pelo que me revejo em ti.
Por ti tento fazer tudo, por ti, tento ser melhor. Quero que, tal como hoje, por toda a tua vida, tenhas orgulho no teu padrinho. Eu estarei sempre disponível para ti.

Claro que te vou dar a pista do Faisca McQueen, mas tu ainda não sabes!!!!



Terça-feira, no Coliseu

vai ser giro, assim espero!

sábado, 7 de junho de 2008

Agora que o dia nasce

Esta noite tive a maior prova de que o a forma de estar, o trabalho que fiz e a forma como construí um caminho profissional me fizeram estar bem.
Hoje o dia vai nascer feliz...


sexta-feira, 6 de junho de 2008

Coisas que me passam na cabeça e eu... pronto...

Hoje fui jantar a casa da minha irmã.

Não tinha avisado que ia, mas numa casa que tem uma Bimby há sempre comida, é garantido.









Mas o que eu gostava mesmo era um dia chegar lá e a minha irmã ter uma mulher prontinha, à minha espera, acabadinha de fazer... na Bimby.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

Do lado de cá do Sol

Em dias mais felizes sentimo-nos bem.
Quando a vida corre de feição, quando o dia e a noite não chegam para o que precisamos. Quando o tempo é curto e a vontade é grande.
Chegar tarde, deitar tarde, levantar cedo, viver muito, trabalhar muito, sorrir muito, correr muito, falar muito, ter muito para fazer e muito para partilhar e, mais ainda, para aprender.
Gostar do que se faz e estar contente pelas decisões que se toma.
Quando assim é, é fácil. É quase perfeito.
Tudo se resume, neste momento, a uma de duas coisas - coragem ou a falta dela.
Acredito que sou mais do tipo dos que encontram na falta de coragem a oportunidade para fazer coisas. A falta de coragem de deixar para mais tarde o que se pode e se quer fazer. A falta de coragem quando se tem medo que a linha que se tem na mão seja, afinal, curta e, por isso, um dia chegará o fim. Que nesse fim valha a pena olhar para trás satisfeito, pelo que atingimos e pela vida que tivemos e que proporcionamos a nós mesmos.
Na verdade, quero crer na coragem de lutar para que o hoje seja um dia melhor. Todos os dias até ao último.
Acreditar que o futuro é longo, mas que se constrói todos os dias. Que todos os dias vale a pena fazer melhor. Que apesar do cansaço, há - tem que haver - energia para ir mais além.
Acreditar que do lado de cá do Sol isto é bem melhor do que o que por vezes fazemos crer.
Podemos construir o que quisermos, mas só construimos alguma coisa quando há coragem. Por vezes não a usamos, mas nunca a devemos perder. Poderemos perder tudo, mas nunca poderemos perder a coragem. Devemos acreditar. acreditar torna-nos mais temperados. Não acreditar ou desacreditar torna-nos secos, àridos.
Para aqueles que pensarem que digo isto porque a vida me corre bem, eu respondo, sim. Corre. Sinto que esta mudança me fez bem, que estou novamente lá, onde quer que isso seja!

domingo, 1 de junho de 2008

Viver, viver, viver

Quinta-Feira
Batô. Músicas de sempre e para sempre.



Sexta-Feira
Casa da música. Clubbing. Young Marble Giants. Clubbing.



Sábado
Via Rápida. Muito mau!
Plano B. Muito bom!