terça-feira, 15 de julho de 2008

Neste mar que navego

Nas suas já habituais caminhadas de final de tarde junto ao mar reparou naquele objecto que brilhava na praia.
De cada vez que a água beijava a areia, descobria-a mais um pouco.
Dirigiu-se ao objecto. Queria perceber o que era. A pouca distância já havia percebido o que era - uma garrafa de vidro transparente igual ás que se vêem nos filmes - e logo desejou que lá dentro estivesse uma mensagem.
Por momentos, deixou-se ficar a divagar no sonho. imaginou-se a tirar a rolha à garrafa para recolher o papel, já comido pelo sol, húmido e borratado.
Imaginou-se a retirar um papel. Era uma carta velha onde vinha escrito:
"Se no teu sorriso procuro o contágio da alegria sempre presente que me faz sentir melhor, no teu olhar encontro a certeza daquilo que me é importante - o gostar.
Como tenho referido, o gostar simples, aquele gostar das pequenas coisas, dos pequenos prazeres e dos curtos momentos.
Olhar-te nos olhos é, agora, para mim, tarefa difícil. Na verdade, não consigo deixar de olhar, mas rapidamente fujo daí, porque quanto mais dentro vou, mais vontade tenho. E sim, sei bem que a vontade e o desejo não superam o erro, muito menos o consertam.
Acredito que um dia vou poder voltar a olhar sem medo, acredito que tu vais querer que eu olhe para ti sem medo.
Talvez por teimosia, talvez por ter sido sempre assim, mantenho que o melhor das nossas vidas pode não se prolongar no tempo, mas não há medo de errar que me impeça de guardar o melhor que cada momento me dá. Se a duração for a mesma que dura um beijo, então que seja. Por vezes, arranca-se daí mais intensidade, mais vontade e mais prazer. Eu senti-o assim.
Volto ao porto. Iço as velas e parto. Parto, para já sem rumo, e sei que vou encontrar outras paragens. Parto na certeza de que voltarei. Essa certeza de que os ventos que nos levam serão os mesmos que nos fazem sempre voltar.
Nesta viagem solitária, encontro-te no Sol, no mar, na luz da Lua e no vento.
E é por isso que nunca me sinto só."
Pegou na garrafa. Era uma qualquer garrafa de vinho que ali tinha sido abandonada. Pegou nela e levou-a ao vidrão. Soltou-a e logo em seguida ouviu os estilhaços do vidro que cai no meio de tantos outros.
Nesse preciso momento, percebeu que a vida lhe dava bem mais do que uma simples garrafa velha e vazia. Bastava apenas acreditar.

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