Olhar para trás e não acreditar, olhar para o lado e não acreditar. Olhar à nossa volta, olhar os outros e não acreditar. Não acreditar, não lutar, desistir. Parar e recomeçar.
Olhar em frente e não ver. Decidir esperar, saber esperar. Acreditar mais em nós do que nos outros, alguns. Reagir, dar um passo atrás, dar um passo ao lado, seguir em frente.
É um ciclo, é assim, é sempre assim, porque somos frágeis, porque acreditamos, em nós e nos outros. Damos mais de nós, damos tudo, porque acreditamos. E depois já não acreditamos. Porque somos frágeis, porque somos frágeis.
Já o disse aqui. Tenho tido sorte, a vida tem-me corrido bem. Não é sorte avulso. Luto porque acredito que só assim faz sentido, exijo muito de mim, o máximo. Assim ninguém me poderá exigir nada, ninguém me poderá exigir mais do que eu já terei exigido e por isso as coisas correm bem.
Acredito que quando a vida flui positivamente, nos tornamos mais frágeis. São as dificuldades que nos tornam mais fortes e tenazes. Essa tenacidade de quem transpõe obstáculos, essa robustez natural que as dificuldades criam àqueles que estão sempre a cair, ou a deparar-se com esses novos obstáculos, fá-los mais fortes. Sou, por isso, mais frágil.
Nos momentos de maior susceptibilidade emocional fecho-me em mim e, numa atitude racional, analiso e percebo onde estou, como sou e, até, quem sou. É nesse momento que percebo que me venho transformando numa pessoa menos racional, menos frio e com menor capacidade de autocrítica, menor força anímica e mais sensível. Menos capaz de dar aos outros e com maior necessidade de receber. Por fim, o sentido de humor fica congelado.
Depois chegam dias como o de ontem, em que os amigos, sem saberem, nos fazem ser apenas alma, apenas emoção. Chega o telefonema que nos faz, de uma forma instantânea e irrecusável, mudar os planos, e ir a correr para lá.
A recompensa não tarda, porque somos bem recebidos, porque nos tratam bem, porque se tem uma noite “daquelas” e, em conversa atrás de conversa, hora após hora, se concretiza a certeza de que tem que haver sempre lugar para os amigos, estes com quem estamos e que contam connosco, que puxam por nós, que nos aceitam tal como somos, com as nossas forças e fragilidades. Às tantas, dou por mim a pensar que não quero que a noite acabe, não esta, não esta em que os amigos, sem o saberem, desempenham na perfeição o papel que lhes foi, há muito, atribuído. Naquelas horas em que falamos dos outros, mas também de nós, em que damos opiniões, em que recebemos críticas e elogios partilhados por quem está ali connosco, percebo que me venho transformando numa pessoa melhor – a todos os níveis, segundo os amigos. E é tão bom.
A noite acabou.
Fui dormir. Dormi melhor e acordei melhor.
Hoje apetece-me ser ainda melhor pessoa, e dar mais às pessoas que me querem bem. Apetece-me estar mais vezes mais perto de quem me trata bem, de quem cuida de mim sem saber que o está a fazer.
Apetece-me estar com as pessoas que não vejo há muito tempo, e que continuam a ver em mim a criança de outros tempos, talvez por as fazer sentir mais longe do fim. Hoje vou ao cemitério, hoje vou recordar aqueles que nunca esqueço, hoje vou estar mais perto deles e, por momentos, orgulhar-me da pessoa que eles veriam, se cá estivessem.
Hoje vou ser quase perfeito.
(Texto escrito ao acordar)
8 comentários:
Faz algum tempo(bastante, dou-me conta agora) que não vinha aqui. Andava eu a pessear pela blogosfera e vejo o Mike, bato à porta e entro... leio apenas este post, deve resumir o estado do menino...
Ora vamos cá fazer uma análise às 3 pancadas: esta história de OLHAR e não acreditar e não VER...decide-te mas é a fazer a operaçãozita às vistinhas :)
Agora a sério, Mike, Mike, não acreditar torna as coisas aleijadinhas, não acreditar é não apostar, é não dar tudo, é não receber tudo, é estar sem estar, é matar antes de morrer...
Não acreditar em quem está à tua volta ou ao teu lado! oh Mike! O presente rápidamente será passado e o futuro rápidamente será presente...
Estou-me a esticar um bocadinho, isto é mais um post que um comentário... mas tornei-me abusadora... ei-de arrepender-me sempre daquilo que faço e não do que deixei por fazer. I'am clear?
um beijo e um xi
Espera Mike, Espera... "mais sens�vel"... caramba, e eu quase que acreditava neste texto!
Huuuummmmmm!
Ps: aconteceu qualquer coisa estranha ali em cima ao ...tamb�m �...
Mike, deixaste-me em estado de choque! Fui linkada na tua lista de "Outras vidas quase perfeitas". Logo eu, que nem suspeitava que a minha também era! AHAHAHAHAHAHHA
Quanto ao post, acrescento que o lado sensível deixa-te com mais pinta! Fica-te bem...
Beijo meu
Este post só mostra que a tua relação com os teus amigos é em tudo semelhante à minha. São a minha fonte de energia, quem me dá tudo com a naturalidade de quem não sabe o que está a oferecer. Haverá melhor que isso?
gostei muito do texto e das músicas que o intercalaram...*
Awake,
Obrigado e volta sempre.
Inês,
De facto os amigos são muito importantes para o nosso equilíbrio. Tal como a família, os amigos fazem parte do tesouro de cada um de nós.
Menina da Lua,
Obrigado pela "pinta". Só não percebo como chegas a essa conclusão.
Linkei os blogs que leio assiduamente, onde, obviamente, se inclui o teu. E é claro que se leio é porque gosto.
Bjos
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