... fico-me por casa, no sofá, a navegar nos pensamentos.
Surge-me uma ideia. A ideia batida de que é Natal e de que o Natal é das crianças.
Surgem-me memórias da criança que fui. Surgem-me memórias dos tempos que fui. E recordo.
Recordo-me do meu avô, esse meu companheiro, que há anos vi partir, no seu sofrimento, pouco digno do homem que para mim ele foi. O companheiro que me ajudou a aprender a andar de bicicleta, o companheiro que me ajudou a construir um atrelado super-espectacular para a minha bicicleta. Um atrelado de madeira, com duas rodas de triciclo - do meu triciclo de metal que entretanto já não servia para nada.
Recordo-me de ter crescido perto dele, recordo-me do caderno onde fazia a contabilidade das despesas da casa, das compras que a minha avó fazia - ele era forreta, ou talvez não. Recordo-me da lareira, de me sentar com ele e com a minha avó na lareira a ouvir rádio. A rádio renascença em onda média. Do rádio que apanhava as emissões da BBC e de uma rádio de lingua estranha que eu achava ser uma rádio soviética!
Recordo-me de assarmos castanhas à lareira. Recordo-me de ficar com eles, sempre à lareira até os meus pais sairem do trabalho para me irem buscar. Recordo-me de ir crescendo e de o meu avô me dar um complemento da "mesada". Recordo-me de o visitar no hospital quando ele adoeceu, recordo-me de o visitar todos os dias quando a cama passou a ser o seu espaço. Recordo-me de o ver perder a lucidez. Recordo-me de ouvir o seu incomodativo e ruidoso respirar já perto do seu fim, quando eu já não tinha coragem de o ver, mas ainda de o ouvir.
Soube mais tarde que nos seus últimos tempos de lucidez, pediu à minha avó que nunca deixasse de me dar "aquele dinheirito" que ele me dava, porque quando fora adolescente como eu, conhecera a tristeza de não ter dinheiro para as coisas que gostava. E a minha avó cumpriu, sempre, até à sua partida.
O meu avô partiu quando eu tinha quinze anos, a minha avó partiu no ano em que terminei o meu curso. Tenho um enorme orgulho em ter uma foto em traje académico com a minha avó. E sinto muito a falta deles. E sinto que eles têm orgulho em mim.
Isto tudo para dizer que o Natal é das crianças...
Surge-me uma ideia. A ideia batida de que é Natal e de que o Natal é das crianças.
Surgem-me memórias da criança que fui. Surgem-me memórias dos tempos que fui. E recordo.
Recordo-me do meu avô, esse meu companheiro, que há anos vi partir, no seu sofrimento, pouco digno do homem que para mim ele foi. O companheiro que me ajudou a aprender a andar de bicicleta, o companheiro que me ajudou a construir um atrelado super-espectacular para a minha bicicleta. Um atrelado de madeira, com duas rodas de triciclo - do meu triciclo de metal que entretanto já não servia para nada.
Recordo-me de ter crescido perto dele, recordo-me do caderno onde fazia a contabilidade das despesas da casa, das compras que a minha avó fazia - ele era forreta, ou talvez não. Recordo-me da lareira, de me sentar com ele e com a minha avó na lareira a ouvir rádio. A rádio renascença em onda média. Do rádio que apanhava as emissões da BBC e de uma rádio de lingua estranha que eu achava ser uma rádio soviética!
Recordo-me de assarmos castanhas à lareira. Recordo-me de ficar com eles, sempre à lareira até os meus pais sairem do trabalho para me irem buscar. Recordo-me de ir crescendo e de o meu avô me dar um complemento da "mesada". Recordo-me de o visitar no hospital quando ele adoeceu, recordo-me de o visitar todos os dias quando a cama passou a ser o seu espaço. Recordo-me de o ver perder a lucidez. Recordo-me de ouvir o seu incomodativo e ruidoso respirar já perto do seu fim, quando eu já não tinha coragem de o ver, mas ainda de o ouvir.
Soube mais tarde que nos seus últimos tempos de lucidez, pediu à minha avó que nunca deixasse de me dar "aquele dinheirito" que ele me dava, porque quando fora adolescente como eu, conhecera a tristeza de não ter dinheiro para as coisas que gostava. E a minha avó cumpriu, sempre, até à sua partida.
O meu avô partiu quando eu tinha quinze anos, a minha avó partiu no ano em que terminei o meu curso. Tenho um enorme orgulho em ter uma foto em traje académico com a minha avó. E sinto muito a falta deles. E sinto que eles têm orgulho em mim.
Isto tudo para dizer que o Natal é das crianças...
5 comentários:
O Natal é de todos os que, pelo menos, ainda têm um bocadinho de criança dentro de si... Feliz Natal Mike :)
Parabéns pelo texto Mike!
Porque no fim, o que fica é isso tudo, as memórias e recordações.
E a certeza de que aqueles que gostamos estarão sempre connosco....até ao fim.
Inês,
Obrigado e boas festas para ti. Que 2008 seja em grande e que a viagem corra pelo melhor.
Porthos,
Por trás desse texto estou eu, estão as minhas fragilidades. As memórias de que somos feitos são ora fortes, ora frágeis, tal como nós. E a esperança que o fim não seja de facto um fim.
Que 2008 seja um ano cheio de alegrias para ti.
Belo texto. Emocionei-me ao ler as tuas palavras, tão simples mas com tanto significado.
Um 2008 em grande!
Well I acquiesce in but I about the collection should have more info then it has.
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