Há tanta coisa que eu gostava de fazer. Há, ainda mais, que já deixei por fazer.
Enquanto a vida corre, eu corro atrás dela e, quando a encontro, estou cansado e deixo-a fugir outra vez.
Assumi como prioritária a minha realização profissional. Ainda assumo, porque quero ser sempre melhor, quero sempre superar-me. Quero ser insubstituível (ainda que saiba que não os há). Acredito que tenho superado as expectativas - as minhas, as das minhas chefias, as da minha família, as dos meus amigos - acredito que o continuarei a fazer. Esta é minha satisfação pessoal, é isto que eu sei fazer. Já uma vez o disse aqui, não nasci com nenhum talento, nenhum dom, nem nenhuma vocação, pelo menos que se tenha revelado até agora. Nunca descobri nada que me realizasse, por isso estabeleci metas mais curtas, e, uma após a outra, as fui superando. Descobri que a minha realização passaria por projectos difíceis, dos que obrigam a dar tudo o que se tem, a reinventar os modelos, a quebrar barreiras.
Arrisco todos os dias, defendo as minhas opiniões e opções, enfrento as hierarquias sem medo.
Enquanto me foco na minha vida profissional, vou esquecendo que a vida deve ser vivida com equilíbrio. Mas eu sou tudo menos equilibrado. Em diferentes momentos consigo ser responsável e irresponsável, concentrado e distraído, excitado e apático, tenso e relaxado, rápido e lento, forte e fraco. Enquanto diambulo pelos meus extremos, vou-me mantendo equilibrado. À semana prendo-me ao meu lado mais sério, ao fim de semana liberto-me. Cinco dias compensados em dois. É este o meu maior desequilíbrio. E é por isso que racionalmente, reconheço que enquanto a vida corre, vai haver tanta coisa que deixarei de fazer, que deixarei de viver, que deixarei de sentir.
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