Respondo ao convite do ilustre
Carlos Malmoro. Mas antes, deixarei aqui uma pequena introdução.
Sendo eu mais virado para a música e para o cinema-em-casa, tendo vida social activa, uma vida profissional que me leva muito do meu tempo, e, claro, alguma preguiça, acabo por deixar pouco tempo para a leitura. Noutros tempos dedicava muito mais tempo, é um facto.
Este convite acabou até por me fazer olhar para os livros que, à espera do dia em que os vou ler, acabo por continuar a comprar.
Por isso, e sem serem exactamente os cinco últimos que li - excluí livros técnicos, profissionais ou de carácter informativo - são os cinco mais recentes, dos quais me recordo de partes, que, com o auxílio do próprio livro, aproveito para transcrever.
1- O Riso de Deus - António Alçada Baptista
Recentemente reli-o, e cheguei a preparar um post com este excerto que, sem querer, apaguei. Tal como Os Nós e os Laços, Tia Suzana Meu Amor, Catarina ou o Sabor da Maça, ou O Tecido do Outono, Alçada Baptista na sua narrativa fluente, mostra-nos que é nas relações e nos relacionamentos humanos que buscamos o verdadeiro sentido do amor, da amizade, da confiança, e, muito importante, da liberdade. Para mim, a obra de Alçada Baptista está sempre actual. Não resisto a deixar como sugestão (porque não foi um dos últimos cinco que li mas merece ser aqui destacado), a quem nunca o fez, a leitura de Os Nós e os Laços.
«- Essa é uma das minhas dúvidas: um homem e uma mulher não podem viver na dialéctica e muito menos nesta pedagogia doméstica de se ensinarem como é que um quer o outro. O futuro não vai conhecer a dialéctica e o amor entre duas pessoas tem que ser o nosso ensaio de futuro, pelo menos aquele que nos é mais acessível. Amar é uma atitude de compreender e aceitar: é reconhecer os outros e respeitar a sua liberdade. Não pode ser outra coisa, se quisermos acabar com este espectáculo triste em que todos andamos metidos. Eu só aceito catástrofes naturais: os tremores de terra, as inundações, as secas, os ciclones, a morte. Não posso aceitar esta destruição domiciliária dos sentimentos e da vida pela vontade deliberada dum homem e duma mulher que é o que se anda pr'aí a viver com o nome de amor...»
2- Livro do Desassossego - Bernardo Soares - Fernando Pessoa
Este não li! Vou lendo, é o estado de espírito que me conduz até ele, e, de alguma forma vou andando para trás e para a frente na sua leitura. Um livro em forma de blog! Deste, poderia escolher qualquer excerto. Ficaria aqui bem, certamente!
«Nunca amamos alguém. Amamos, tão-somente, a ideia que fazemos de alguém. É um conceito nosso - em suma, é a nós mesmos - que amamos.»
«Pasmo sempre quando acabo qualquer coisa. Pasmo e desolo-me. O meu instinto de perfeiçãodeveria inibir-me de acabar; deveria inibir-me até de dar começo. Mas distraio-me e faço. O que consigo é um produto, em mim, não de uma aplicação de vontade, mas de uma cedência dela. Começo porque não tenho força para pensar; acabo porque não tenho alma para suspender. Este livro é a minha cobardia.»
3- A Minha Andorinha - Miguel Esteves Cardoso
Um livro de crónicas, bem ao jeito de MEC. É para mim, não um livro, mas um entertenimento.
«...porque o medo, mais do que o amor, é aquilo que nos uniria, caso tivessemos todos medo das mesmas coisas. (...) por muito que porfiemos, é uns dos outros que temos medo. (...) O medo é democrático. Toda a gente tem e cada um tem os seus.»
4- Voo Nocturno - Saint-Exupéry
A dureza e frieza do velho Rivière. Naquele tempo, talvez, a gestão de recursos humanos impunha esta forma de estar. Rivièrie no fundo não teve vida. Ser-se só racional não é ter vida, e Rivière, tal como Leroux, não tinha tempo...
«Estes homens são felizes porque gostam do que fazem, e gostam do que fazem porque sou duro.»
«Porque os acontecimentos comandam-se e eles obedecem, e criamos. E os homens são uma miséria, e também os criamos. Ou então afastámo-los quando o mal passa por eles. (...) Não sei se o que faço é bom. Não sei o valor da vida humana, nem da justiça, nem do desgosto. Não sei o que vale exactamente a alegria dum homem. Nem uma mão que treme. Nem a piedade, nem a doçura...»
«Para que nos amem, basta-nos lamentarmo-nos. Eu não me lamento ou escondo-o. Gostaria muito, no entanto, de me rodear da amizade e da doçura humanas.»
5- O Poder dos Sonhos - Luís Sepúlveda
Gosto da escrita de Sepúlveda. Este chileno que ama o seu país. Que sonha, mas, acima de tudo, que aqui, neste livro narra a história do passado e do presente.
Um livro recente, com comentários do autor à política internacional mais recente - Estados Unidos, Iraque, Espanha. A sua história cruzada na história do seu país e na opinião que tem sobre o mundo actual.
Comprei-o para o ler numa qualquer esplanada à beira-mar. Comecei a lê-lo.
Não deixo nenhum excerto porque, confesso, ainda o ando a ler. Eu sei que é um livro pequenino, mas tenho-o na mochila, à espera de um novo fim-de-semana de sol, na esplanada à beira-mar. Fim-de-semana esse que teima em não vir! Chiça!
Obrigado, mais uma vez, ao
Carlos Malmoro pelo convite.