quinta-feira, 6 de setembro de 2007

Jantar

(Para ler este texto, aconselho que, primeiro, ponham a música a tocar...)


Chego a casa.
Recebo e faço dois ou três telefonemas.
Ligo o computador para enviar um último e-mail. Dou o dia de trabalho por terminado.
Dou uma volta pela blogosfera.
Decido que hoje vou fazer o meu jantar.
Lenvanto-me, pego num cd dos Tindersticks e ponho-o a tocar. Arrasto uma coluna na direcção da cozinha para melhor ouvir a música.
Entro na cozinha, à esquerda, o fogão, a banca e o lava-loiça. À direita, o frigorífico e a mesa.
Procuro todos os ingredientes de que vou precisar. Ponho a àgua a correr e, quando a sinto quente, pego no tacho e encho-o. Apenas o suficiente para cozer o fuzilli.
Vou ao frigorífico, pego na embalagem de tomate cereja, na embalagem do queijo mozzarella, na embalagem de manjericão e no quarto de cebola.
Vou ao armário, tiro a embalagem de fuzilli e pego na garrafa de azeite. Coloco o avental.
Adiciono um fio de azeite à àgua e um pouco de sal e, enquanto espero que a àgua ferva, lavo os tomates, a cebola e o manjericão. Corto os tomates e a mozzarella, pico a cebola e o manjericão. Coloco-os num recipiente e adiciono um grande fio de azeite, a flor de sal, um pouco de pimenta. Os Tindersticks tocam só para mim.
Espreito o frigorífico. A única garrafa de vinho branco repousa lá - é uma garrafa de Vinha da Defesa. Pego-lhe, pego no saca-rolhas e abro-a. Cheiro a rolha - está em condições. Verto o vinho no copo. A cor tem tonalidade amarela esverdeada, brilhante. Levo o copo ao nariz para sentir os aromas. São complexos, mas sobressai a lima e alguma fruta tropical - destaco, talvez o ananáz. Levo o copo à boca. Alguma acidez, mas bem equilibrada, transmite frescura. Tem um belo final de boca, persistente.
Preparo a mesa. Entretanto o fuzilli cozeu. Passo-o três vezes em àgua fria. Não só ajuda a manter a consistência "al dente" como o arrefece rapidamente. É isso que pretendo. Junto os ingredientes, numa alquimia de sabores. Polvilho um pouco mais de flor de sal.
Sirvo o meu prato e vou para a mesa. Ficou perfeito, na textura e no sabor - sou muito crítico em relação a mim mesmo, procuro sempre melhorar, mas sei reconhecer o meu mérito!
Sirvo-me novamente e, ainda mais uma vez. Exagerei, mas estava-me a saber mesmo bem. Neste meu egoísmo, desfruto sozinho daquilo que deveria ser a dois. O vinho corre-me e refresca-me, mas penso que, talvez, um Grandjó ou um Vinha das Garças «casariam» aqui melhor, por serem mais leves e mais doces, mas não está mal.
Termino. Ainda tenho vinho no copo - e mais metade da garrafa que, penso, ficará para amanhã. Levanto-me e vou buscar um cigarro. Enquanto fumo e termino o vinho.
Arrumo tudo. Escrevo este texto e espero pelo dia de amanhã...

10 comentários:

Anónimo disse...

Esta tua descrição fez-me lembrar o Ratatui. Tirando o vinho e a música!

Menina da Lua disse...

Momento único que ganha outro sabor quando partilhado...gostei de te ler assim...Beijo meu

Mike disse...

Ana,
A comparação com um rato (não vi o filme e, por isso, pode não me soar muito bem) é estranha!
Espero que tenha sido um comentário elogioso! :-))

Mike disse...

Menina da Lua,
Sim, ainda que não deixe de fazer coisas boas de forma egoísta, prefiro as coisas a dois...

Anónimo disse...

É mesmo porque não viste o filme...

Perignon disse...

A beleza das coisas simples... não é meu caro?

Mike disse...

Ana,
Recomendas ver?

Perignon,
Simples... como tudo deveria ser!

Inês disse...

Não percebo porque um momento assim tem de ser partilhado. Às vezes sabe muito bem estarmos só connosco e mimarmo-nos. Assim é que a vida tem de ser feita: com os luxos das coisas mais simples.

Mike disse...

Inês,
Plenamente de acordo! Precisamente por não ter que ser partilhado, o fiz sozinho! Mas confesso-te que sabe melhor a dois...

Anónimo disse...

Sim, recomendo a todos. É delicioso, em todos os sentidos.