sábado, 26 de janeiro de 2008

Segundo de três

Em resultado da minha vida profissional, das minhas relações pessoais ou de circunstâncias várias, tenho vindo a conhecer pessoas – homens e mulheres, embora o texto se vá concentrar nas mulheres – que me parecem pessoas muito interessantes, mas quase todas com uma vida que não é exactamente “quase perfeita”.
Ora essas pessoas com que me cruzo teriam tudo para ter uma vida “quase perfeita”, não fosse o caso de uma boa parte delas viverem ainda do passado. Não, não são retrógradas, longe disso, mas agarram-se a um passado que teimam em não largar, mesmo que muitas vezes, o passado também não as largue.
São, no meu ponto de vista, extremamente interessantes, adultas, modernas, cultas, com interesses vários e com vidas profissionais mais ou menos bem sucedidas, que lhes permite serem independentes.
Refiro-me, claro, a pessoas que estão, de momento, solteiras ou em vias de o serem. Pessoas que tiveram vários relacionamentos, pessoas que já foram casadas, pessoas que têm filhos, pessoas que ninguém lhes conhece relacionamentos recentes.
A ver pela amostragem (e por o que outras pessoas me vão dizendo), existe uma fatia cada vez maior de “encalhados no passado”, que de alguma forma, perdem mais tempo a olhar para esse passado do que para o presente e, por isso, não constroem o futuro, ou, pelo menos, constroem-no em função de uma esperança de que o passado volte ou, mais grave ainda, na ausência de qualquer esperança.
São pessoas feridas pelos seus passados, as quais não conseguem fazer sarar as feridas, não por serem profundas, porque nem sempre o são, mas porque frequentemente essas pessoas ou até o seu próprio passado colocam lá o dedo, apesar de isso fazer doer, de infectar, de nunca curar.
Essas pessoas (neste caso refiro-me exclusivamente às mulheres) tiveram na vida delas um Mike qualquer que as amou, que as convenceu a amarem, que as fez feliz, que foi feliz com elas, que criou expectativas numa vida a dois, mas que depois, um dia, sem que elas percebessem porquê, ou até percebendo porquê, fez cair por terra o futuro, aquele futuro que estava ali, à vista.
A quem por aqui passa há pouco tempo, devo dizer que sim, sou um desses tipos que fez alguém sofrer, que quebrou a esperança, que desfez o sonho – talvez hoje seja visto como um pesadelo, como algo que afinal até foi bem melhor assim, não sei… - que deitou fora uma parte do passado, que foi cruel numa decisão inesperada e intransigente.
Ser feliz é muito mais do que cumprir sonhos do passado. Ser feliz é criar o futuro, não em função dos sonhos mas das realidades, das expectativas atingidas e das frustradas. É procurar sempre alternativa.

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