Recordo-me de todas as vezes que me cruzei, ora no elevador, ora no jardim do prédio, com o vizinho da minha irmã.
Nos seus quarenta anos, este senhor, que creio ser de nacionalidade chinesa, passava por mim, sempre cabisbaixo, olhos no chão, como que a lamentar-se do dia em que conheceu a mulher.
A mulher, essa, tinha todo o ar de quem, enquanto matriarca, impunha a seu belprazer as suas ideias perante a sua família. Possuiam um restaurante chinês, na Avenida de França, próximo à Rotunda da Boavista. Fui lá várias vezes jantar. A mulher era a anfitriã. O marido ficava pela cozinha.
Ainda hoje me recordo desse homem, porque nunca lhe vi um sorriso, porque sempre achei que a probabilidade de ele encontrar dinheiro no chão ou evitar "presentes" de cão, era substancialmente maior que a minha. Porque sempre imaginei que, se na cozinha daquele restaurante, ele tivesse a oportunidade de pegar num cutelo, a probabilidade de a mulher passar a ser o 116 (chop soey de galinha), era enorme.
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